Letras sem número
Por vezes ando perdida pelas ruas da cidade, faltam números nas portas, não sei onde fica o setenta e seis, perco-me pelo quarenta e dois. E interrogo-mo como conseguem os carteiros entregar uma carta ou fazer uma notificação. Onde pára o número de polícia nas nossas ruas e avenidas, que não se vê. Cairam com o vento, desapareceram com um raio, volatilizaram-se com os tapumes, vinte sete a, vinte sete b, devia ser por aqui o trinta e um, onde fica a porta que não aparece.
Se olharmos bem, lá está a numeração nos prédios velhinhos, em metal ou azulejo, mas nos novos, quando a descobrimos, são placas raquíticas, envergonhadas, com receio de destoar na porcaria do edíficio. Onde está o número que só vejo nomes de advogados, consultórios médicos e até a referência aos excentíssimos arquitectos que desenharam aquela maravilha urbana. Mas o número, onde andará ele perdido entre montras, lojas, stands e escritórios.
Volto para trás, confiro a informação, e passo por um, dois, três edifícios, nada nem ninguém a quem perguntar. Ligo do telemóvel, por favor onde fica, cabeça no ar, comércio de unhas, banco, telecomunicações, cabeleireiro lá em cima, senhores doutores à direita e já estou noutra rua.
Sou uma mulher perdida.
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