sábado, outubro 16

Caminhos de Roma

Roma tem destas coisas: por volta do meio dia, faça chuva ou faça sol, chegam a juntar-se alguns milhares de crentes para ouvir um homem de cabelos brancos pedir-lhes que sejam gente de Fé, humildes e generosos. Muitos deles ainda vivem na Idade das Trevas, originária numa crença milenar que lhes há-de sobreviver, e demonstram pouca capacidade para se deixarem influenciar pelos desígnios dos tempos modernos que o relativismo lhes quer impôr, o que lhes pode trazer grandes maçadas. Noutros tempos fizeram parte do espectáculo no Coliseu, onde não sobreviviam para ouvir os aplausos da populaça sobre o seu desempenho na arena. Eram os ossos do ofício para quem não adorava os deuses de César.
À minha volta, gente indisciplinada, atende os telemóveis quando o homem idoso reza uma oração em latim, tiram fotografias que perturbam quem ouve a voz que vem da janela aberta, mas trazem com eles dezenas de souvenirs à espera de meia de dúzia de palavras que os hão-de transformar em objectos do seu culto.
Por uns momentos, enquanto abandonam aquela praça magnífica, é possível que o peso daquele local ou o sentido de pertença os faça sentir mais serenos e confiantes. A mim, nunca deixa de me comover.
Saio para um caffe al vetro num pequeno bar chamado "Os penitentes" ou "Os confessores" junto ao Arquivo do Santo Ofício. Roma tem destas coisas.
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