O mar é para quem o apanhar
A batalha corpo a corpo, ou melhor, carro a carro por um lugarzinho de estacionamento é um tratado de psicologia barata ou mesmo rasca. Vê-se de tudo: o palerma que se faz distraído e que finge ter visto o buraquinho em primeiro lugar, o espertalhão que galga o passeio obrigando os peões a gincanas acrobáticas (com os braços cheios de logística), o tipo anti-social que larga o carro dificultando as manobras das outras viaturas, os impacientes e os tansos, categoria a que orgulhosamente julgo pertencer.
O tanso é o que anda às voltas com o carro para encontrar lugar dentro da legalidade. Por todo o lado é o caos, mas o tanso arma-se em parvo e, enquanto o suor lhe escorre pelo corpo e o sol lhe dá de frente, jura a pés juntos que não quer ser igual ao imbecil que largou o carro na curva.
Passam quinze, trinta minutos, o sol já vai alto, nem um mergulho consegue dar e até o único espaço livre (a passadeira) acabou por ser invadido. Por essa altura já irritou a família, gastou gasolina, a transpiração já se cola ao fato de banho e indo sozinho, já insultou meio mundo entre portas: tipo que faz estas coisas, é o tipo que se põe a jeito para a negociata, que desafia a justiça sabendo que vai ganhar mais não seja pela exaustão, é o filho da mãe que se julga dono do pedaço, um garanhão fantástico (e fantasioso), o porco que cospe para o chão, que denuncia os colegas, que se gaba de enganar o fisco, que bate na mulher, que ignora as pensões de alimentos, que abandona os animais, e por aí fora, que podem estar crianças a ler.
Finalmente, um carro da "autoridade". Ah! vão ser multados os malcriadões, porventura rebocados. Vieram para salvaguardar os que querem cumprir, haja fé nas instituições. Pois sim; lá seguiram em frente indiferentes ao tanso que está quase a desistir mas sem antes abordar outra "instituição" parada junto aos acessos ao mar: que não têm nada a ver com isso, siga lá o seu caminho, que é melhor.
Exausto, acaba por parar junto a um estacionamento mais distante e eis que chega um casal que lhe salva a tarde, ou melhor, o fim de tarde, prometendo não mais voltar, que já tem idade para ter juízo.
Fotografia: Cidadania LX - Panteão (2009)
NOTA: "Afinal, Portugal está a salvo da malandragem : A Polícia Marítima apreendeu 500 ‘bolas de berlim’, 250 óculos, 210 relógios, 40 túnicas e 20 carteiras numa operação que decorreu desde sábado até ontem em cinco praias dos concelhos de Albufeira, Silves e Portimão. Foram autuados vinte vendedores."
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