Diário de uma gata enquanto blogger (5)

Olá, cá estou de novo. A patroa está uma madraça, por isso tenho que vir eu até aqui puxar pela cabeça e tentar escrever alguma coisa que não adormeça os leitores que ainda não estiverem entediados com a falta de criatividade que vai neste blog. Pois bem, acabo de chegar do veterinário. Mal vi a caixa onde a madura me queria transportar, fugi para o meu refúgio secreto (não digo qual, porque ela pode passar por aqui), onde me mantive até perto da hora da consulta. Mas depois lembrei-me que tinha sentido há uns tempos uma ligeira comichão no pêlo e temi o pior. De forma que, com algum esforço me enrosquei dentro da malinha de plástico e que seja o que a doutora veterinária quiser.

Cá por casa as coisas andam animadas, consigo dar bons saltos para os lavatórios das casas de banho, a erva gateira é um acepipe delicioso e até a minha dona anda entusiasmada com a visita de um senhor idoso de cabelo branco e trajes compridos. Dizem que é amigos de gatos, e também por isso deve ser boa pessoa. Entretanto vejo-a chegar cansada e desalinhada, quase sem forças para tratar das minhas instalações, mas a custo lá vai fazendo um esforço para se curvar mais uma vez. Os humanos são deveras estranhos. Chegam exaustos de tanto exercício físico e ainda lá voltam uma vez e outra para se cansarem mais ainda.

Na clínica tive oportunidade de conhecer um dogue de Bordeaux ainda bebé (quase do tamanho de um pónei) e uma prima assustadiça encolhida na caixa, todos de boa saúde mas à espera consulta, nós umas aristogatas e o cão, um verdadeiro sangue azul. Eu vou tomar uma vacina para a gripe, ouvia-a dizer. Enquanto esperava para pagar, ouvi outras clientes proprietárias a trocar impressões sobre as maleitas da respectiva bicharada: uma família ia visitar o animal hospitalizado e uma senhora simpática vinha discutir a quimioterapia do gato. Senti-me feliz por estar de saúde e grata pelos cuidados da minha patroa. Vou mesmo fazer um esforço para não deitar as unhas aos sofás italianos que ela tanto estima e deixar os cremes sossegados: há dias em que a casa parece uma zona de combate, queixa-se ela com razão.

Com uma lagrimita no olho fiquei sensibilizada por tanto carinho com os animais meus primos. "Dão-nos os que os humanos não dão", afirmou a dona do grandalhão irrequieto.