quinta-feira, dezembro 24

Outro calor (1)

Entretanto, dou uma volta pelos blogs, jornais, pelo que se fala e as atitudes dividem-se. A Helena Matos, enquanto espera pelo espírito de Natal, ainda tenta a crónica boazinha, como refere no texto de hoje: "Uma crónica que seja uma espécie de versão adulta das redacções sobre a paz, os golfinhos e a salvação do planeta que as criancinhas escrevem laboriosamente. Uma crónica que não ofenda, que não vá contra o espírito "sininhos a tilintar", muitos beijinhos, menino Jesus nas palhinhas característicos da época", mas foge-lhe a mão para a política. Não se chateie. Depois das filhoses e do bacalhau com broa, isso passa e amanhã outras ralações virão, tão certo como o Maomé fugir do toucinho.

Outros falam e escrevem com sobriedade de coisas sérias, política e assim. Bem sei que não me deveria espantar, mas este ano a novidade é alguma violência verbal e até má criação. Os tempos estão muito estranhos e, decididamente, não são os meus.

Um pouco por todo lado vivem-se ares de generosidade episódica e fraternidade sazonal. É normal, mesmo sabendo que isto da generosidade ou está na natureza de cada um ou não está. Que as (boas) atitudes para com os outros têm 365 dias cada ano, mas a gente faz-se de parva e, com algum cinismo, aceitamos meia dúzia de horas de altruísmo alheio. Deve ser isto a que chamam "saber viver" ou espírito natalício.

E por ser Natal, também me dá para algum metabloguismo um nadinha nostálgico mas sentido, pois isso devo aos meus leitores. Pode ser que ainda tenha alguma aberta entre a corrida para o bolo-rei do Estoril, toalhas de linho e travessas de sonhos. Voltando à crónica da Helena, está cheia de razão sobre as mesas de Natal dos que se dizem "gente famosa": "Perante a parafernália que colocam nas mesas, verifico que não sobra espaço para a comida: troncos, velas, frutos, bolas, fitas, enfim tudo menos comida ou espaço para ela". Desconfio que aquilo deve ser tudo para inglês ver e nada daquilo lhes pertence. Não troco a minha mesa conservadora e tradicional por nenhum daquele folclore, eu que sei quem quebrou a asa da terrina e riscou a travessa grande.

Vamos então a outra corrida e outra viagem, semelhantes a tempos passados, dos recados e das entregas, a maior das secas para uma criança em terras de província, mais uma rua, outra casa, que manda a mãe as filhoses à amiga viúva, ao primo doente, e à família enlutada, que era mesmo assim que ditava a tradição. Tal como hoje, a noite que nunca mais chega...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estimada Vizinha,

Melhores desejos de um Santo Natal a todos em casa.

Quanto ás sua palavras sobre a degradação da Cidade, certamente que um dia gostaria de ter oportunidade de lhe descrever - ao vivo e a cores - o quanto me custa ter todas as minhas recordações de infância - e estamos a falar de um raio de 1 a 2 Km da sua Residência - destruídas, betonizadas ou alcatroadas. Mas adiante...

Respeitosos cumprimentos a todos,

Anónimo Vizinho

PS: Tenho um casal amigo que é seu vizinho também, creio (Esquina Espiga Sol / Billennium)

1:49 da tarde  

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