Na moda de Verão (mesmo final)
Era dia de eleições e a Moda Lisboa terminou, para mim, mais cedo do que tinha previsto. Um pouco desanimada, regressei a casa sem ver o Miguel Vieira e sem grande entusiamo para festas. No entanto, por essa altura, e depois de tanto calor no espaço dos desfiles, já se tinha derretido a linda maquilhagem que a menina da L'Oréal me tinha feito, mas vamos ao que importa e igualmente importantes nestes eventos, são os intervalos entre os desfiles, ocasião para breves conversas, comentários, e algumas bebidas que simpáticos barmen nos proporcionam.
Para além das colecções, há um outro mundo, que vive nas revistas do coração, ao qual estou imune. É o frisson causado pelos flashes das máquinas, das entrevistas, de gente produzida para o efeito. Finalmente, já se começam a notar algumas rugas e os anos a passar em gente que demorou a envelhecer. Fiquei mais consolada. Já não sou só eu que ganhar cabelos branco, rugas e peso. Tenho é que ganhar para a clínica de estética, isso sim.
De ano para ano, vou tendo cada vez maior dificuldade em identificar as carinhas larocas que se sentavam à minha frente ou mesmo ao meu lado, como uma tontinha que me queria convencer de que aquele lugar estaria ocupado. Minha linda, sou "anónima", mas não sou parva, "tá bem?"
Mas lá vinham todas e todos, com as respectivas legendas, numa das revistas que fez a cobertura do evento. Até me pareciam mais engraçados nas fotografias do que ao vivo e a cores. Sabem-na toda. Sobre a minha presença, nem uma nesga de cabelos, nem um vislumbre num cantinho superior direito na penumbra. Nada. Estou confinada ao anonimato, nesta fugaz feira das vaidades.
Quando passava por mim uma criatura em cinzento prata e perante os meus comentários pouco fashionable, dizia-me um conhecido jornalista de um jornal satírico (o meu momento de glória), que o problema é a falta de excêntricos. É possível, mas à míngua de roupas Viven Westwood ou de vampiras góticas, qualquer trapinho mais exuberante era um pitéu para os fotógrafos ou para línguas mais viperinas. Mesmo quando essas figuras têm idade para ter juízo. E depois, não estávamos num desfile do Galliano, nem Cascais é NY, não sou sequer uma temível editora de moda, nem tenho nenhuma coluna de gossip na Fox News.
Um comentário final para as saias curtas com botas, uniforme que praticamente todas as meninas pareciam usar, e para os sapatos estilo Maria Antonieta. Alguém descobriu que o século XVIII era uma mina para os criadores de calçado. Vendo bem, só mesmo Versailles para inspirar tanta fantasia.
Mais uma vez os meus agradecimentos à organização, gente muito simpática e, quem sabe, até para o ano. Tenho que sair mais à noite.
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