sábado, novembro 24

"Qual é a sua graça?".

Uma das virtudes da língua inglesa é a sua característica uniformizadora no tratamento inter-pessoal. Por outras palavras, é poupada e parca nas expressões como se tratam as pessoas. Por cá, em poucas horas pode ser-se menina, senhora, dona, doutora, você, tu-cá-tu-lá, e até excelência para alguns. É curioso verificar que estas fórmulas nem sempre são fixas: em caso de discussão tratam-se as pessoas com mais cerimónia como forma de enxovalho e nada melhor que um gin tónico em excesso para libertar a mais convicta das formalidades.
Por isto tudo, a expressão you, além das suas vantagens óbvias, tem também os seus segredos: permite a ironia sem retaliação, provoca o distanciamento sem inibir a proximidade, evita embaraços, dissipa tratamentos inter-classistas, impede falsos populismos, não é hipócrita nem bajuladora e esconde na perfeição o que nos vai na alma com a ajuda de óculos escuros.
Repare-se no nome deste blog traduzido para português: sem graça nenhuma.
Fotografia: "Eau Première", o novo aroma Chanel 5, a sair no próximo ano
*
Nota: Por mim, à excepção do título de excelência, o qual nunca virei a usar visto não ter frequentado os locais que lhe garantem o acesso, e desde que não falte a boa educação e a civilidade, esta coisa das formas de tratamento não é assunto que me tire o sono. Já o modo como me relaciono com os outros, isso é outra conversa.

6 Comments:

Blogger JC said...

Bom, o meu pai e irmãos, mesmo depois dos 60, sempre foram "meninos" para a porteira do prédio onde vivia a minha avó, as "apanhadeiras de malhas" (profissão extinta) eram meninas independentemente da idade, havia nomes femininos em que se incluia ou não o tratamento por Maria "tal" ou só por "tal" consoante a classe social (Maria do Carmo ou Mª da Assunção seriam porteiras e Carmo ou Assunção seguramente fariam parte do círculo), idem para Srª ou Srª Dona. Por último, uma das minhas avós, francesa de nascimento, sempre foi tratada por Madame, com ou sem nome à frente, pelo comércio do bairro. Enfim, as formas de tratamento em português são algo apenas acessível aos iniciados.
Cumprimentos
JC

2:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há usos de "você" de uma má educação assinalável e não sei se a Miss Pearls é tão desinteressada quanto diz quando eles lhe passam secantes...

10:56 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Cara capitolina
Se o contexto em que é empregue o "você" é claramene de falta de educação, é óbvio que me chateio. Mas tanto faz que seja com "você" como com "senhora", "dona" "dótora", etc.

12:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Menina Pérolas... não era assim tão desengraçado, mas é melhor como está (risos).

5:44 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Caro Mike
Se me conhecesse saberia que não tenho jeito de Menina Pérolas...
Mas tem razão. Fica melhor assim

5:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O conteúdo é mais importante que o embrulho, neste caso a forma. Se bem que muitas vezes forma é conteúdo. Indo direito ao assunto: seria sempre um prazer lê-la Miss Pearls... mas sim, talvez fosse mais difícil dar o primeiro passo para ler uma Menina Pérolas (risos).

12:25 da tarde  

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