As palavras aos outros

Esqueçamos a paixão pelos livros. Este post nada tem a ver com autores, géneros, temáticas ou obras de uma vida. Sem grandes exaltações ou arrebatamentos, sou capaz de afirmar, sem pestanejar, que o melhor amigo do utilizador do livro é o índice. Quer seja sobre as minudências do aparelho digestivo ou sobre pormenores corográficos, um boa "entrada", enxuta, recheada de bibliografia e acompanhada de competentes remissivas faz a alegria do leitor mais exigente. Servida com grandes diversidade de autores e em ambiente acolhedor, dá ânimo ao mais desalentado dos curiosos.

Mas não são os índices que me interessam. Agora não. Confesso que há uma parte em determinados livros que me desperta a maior das curiosidades. Falo das dedicatórias impressas, agradecimentos e por vezes das "introduções".

Na maioria dos casos são palavras breves dirigidas a familiares, colegas, amigos e orientadores de trabalhos académicos, técnicos ou de obras científicas. Encontramo-las nos romances, geralmente cheias de carinho pelo marido, mulher, filhos, pais e amigos. Um agradecimento, um reconhecimento pela presença constante e tantas vezes pelas ausências forçadas: "Com amor, ao meu marido e aos meus filhos. Sem a sua compreensão e afecto, nada disto seria possível".

São as palavras dirigidas aos pais, que falam de sacrifício, gratidão e afecto incondicional. Orientadores, responsáveis e chefias recebem expressões de cortesia pelos seus ensinamentos, orientação e disponibilidade.

Estas breves frases, na abertura de uma obra, cheias de gente dentro, ficam para o futuro na companhia do autor, expostas aos olhos e à crítica de quem os folheia. Sem nunca escrever um livro, como é o meu caso, hei-de estar com alguns autores, em alguma prateleira de biblioteca ou em estimáveis estantes algures por aí.

E depois há as outras, algo intrigantes, breves, mas não menos carinhosas : "A X." Coisas do amor, digo eu a romancear. Uma incógnita se ficará ou não para o futuro. O livro ficará certamente.