Feitiços

Desde anteontem, ou melhor, desde que li a crónica da Ana Sá Lopes no DN, que ando para escrever qualquer coisa em forma de post. E já que ela confessou, sinto as costas quentes para me revelar "fã clandestina" da xaropada do momento.

Eu não sei o que me aconteceu/foi feitiço o que é que me deu/ /para gostar tanto assim de alguém/como tu.

"Conhece este refrão? É natural. Está nos tops há semanas e passa incessantemente na rádio. O autor, um músico até agora menos conhecido chamado André Sardet, passou a ídolo xaroposo. Os taxistas com quem tenho viajado estão encantados. Eu também. Vá lá: aquilo é um grandessíssimo xarope. Cubro-me de vergonha a dizer que gosto.(...)"

Pois a verdade é que entre o pára/arranca da cidade, dou por mim a entender-me com o cantor mais as suas dúvidas de amor. Tem razão, o rapaz. Estava Pascal também coberto de razão: "O coração tem razões que a própria razão desconhece" .

Se ouvirmos o resto da canção, nada daquilo faz sentido, ou melhor, o resto não interessa nada. A música é o refrão, bem explicado pela ASL: "aquele que ama está fora da lei, da lógica ou do pensamento. É um imbecil à solta." Ou então é por ser Natal, as luzes enchem-me de melancolia e a música "driving home for Christmas" está já a exasperar-me. Agora com o som mais alto: "Eu não sei o que me aconteceu/foi feitiço o que é que me deu/ /para gostar tanto assim de alguém/como tu".

"Um bandalho e eu nesta choradeira...", confessava quase a soluçar, uma amiga a meu lado. "Não penses nisso agora.", respondi enquanto mudava de estação. Se virem alguém a comprar o CD com ar fingido de quem o vai oferecer, posso ser eu.