Cinco viagens
O Eduardo Pitta desafia-me para dar cinco sugestões de leitura. Meu caro, não me faço difícil. Aqui ficam, portanto, cinco livros com um ponto em comum : são relatos de estrangeiros sobre Portugal. Claro que existem mais algumas obras, mas estes são os meus favoritos, quase todos muito críticos ou preconceituosos em relação a Portugal e a Lisboa em particular, mas não é por isso que deixam de ser interessantes. Pelo contrário. Já agora, para quem gosta de boas polémicas, é favor ler Camilo Castelo Branco a zurzir na Princesa Rattazzi.
Para admiradores de literatura de viagens e não só, deixo algumas sugestões para uma visita a este país nos séculos XVIII e XIX, assim como um excerto do livro de Link, a que refiro :
"A primeira coisa que uma pessoa não pode deixar de notar em Lisboa é o mau policiamento. A imundície das ruas está amontoada por todo o lado, nas ruas mais pequenas e estreitas, onde a chuva não a lava, forma verdadeiras colinas, e para uma pessoa não se afundar no meio dela tem de conhecer muito bem o carreiro. (…) Antigamente a cidade era iluminada, agora já não, e como as lojas fecham cedo nada alumia a escuridão das vielas estreitas e mal pavimentadas. Uma horda de cães sem dono que se alimentam à custa do público erra pela cidade como lobos esfaimados e, pior ainda do que estes, é a horda de bandidos. Muitos se admiraram como nós tínhamos ousado, nestes tempos de guerra, viajar para Portugal por terra.(…) Como pode um povo, entre o qual se encontram afinal homens esclarecidos, aguentar horrores deste género, que põe Lisboa ainda abaixo de Constantinopla?(…)
As diversões do Carnaval são sempre feitas segundo o gosto dominante da nação. E em que é que consistirão em Lisboa? Nobres e gente do povo divertem-se em atirar toda a espécie de sujidade e imundície aos passantes que, de acordo com o costume e para evitar maus encontros, aguentam pacientemente este tipo de coisas. Uma encantadora dama de condição despejou um bacio sobre mim, não me deixando qualquer consolo a não ser esperar que o bacio fosse o seu.(…)
Os altos muros das quintas na cidade, os arredores abandonados e desertos convidam ao roubo e ao assassínio, o mau policiamento fomenta-os.(…) A Primavera é a época mais perigosas. Sei de alturas em que se podia contar um assassínio todas as noites.
O criminoso escapa quase sempre, em virtude de uma compaixão verdadeira e genuinamente portuguesa, toda a gente lhe facilita a fuga. Coitadinho, pobre homem, dizem, e tudo lhe corre de feição. "
Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha / Heinrich Friedrich Link. Lisboa : Biblioteca Nacional, 2005.
Viagem em Portugal, 1798-1802 / Carl Israel RUDERS. Lisboa: BN, 2001. 2 v. (Série Portugal e os estrangeiros)
Lisboa nos anos de 1821, 1822 e 1823 / Marianne BAILLIE. 1.ª ed. Lisboa: BN, 2002. 288 p.
Diário de William Beckford em Portugal e Espanha / trad. e pref. João Gaspar Simões por Beckford. 2a ed. rev. Lisboa : Biblioteca Nacional, 1983
Uma visita a Portugal / Hans Christian Andersen. 1a ed. Lisboa : Ulmeiro, 2000
O Rui Costa Pinto, o Fworld, a Natureza do Mal, o Bic Laranja e o João Miranda do Blasfémias, podem dar também as vossas sugestões? Não custa nada. Obrigada.
3 Comments:
Alguém me "desafia" para dar cinco sugestões de leitura. Repito: cinco sugestões de leitura. Que devo fazer? Cinco romances? Cinco ensaios? Cinco "policiais"? Cinco dramas? Cinco comédias? Cinco clássicos? Cinco "livros de cozinha"? Cinco sobre "Ciência"? Cinco sobre política? Cinco sobre religião? Cinco sobre... "Os Cinco"?...
Um de cada? Não, ficariam alguns temas de fora.
Meto uns papeizinhos num saco "escuro", meto a mão (cinco vezes) e... já está? Não, podiam-me "calhar" cinco do mesmo naipe.
Portugueses ou estrangeiros? Os autores.
Sobre portugueses ou sobre estrangeiros? Os livros.
Estrangeiros sobre estrangeiros? Não importa.
Portugueses sobre portugueses? Importa.
A dizer mal ou a dizer... bem?
Dos portugueses sobre os portugueses, destes sobre os estrangeiros, destes sobre os portugueses ou daqueles sobre os estrangeiros?
Bem? Mal? Será possível o plural ou vigora o singular?
Mal? Bem?
Se for mal, e me calhar cinco de culinária? Há cinco livros que falem mal de culinária?
Se for bem, há cinco que falem bem de política?
Bem, mal, duas faces da mesma moeda. Uso o método da moeda ao ar, como no futebol?
Desisto. Não me apetece brincar mais às fantasias.
"...estes são os meus favoritos, quase todos muito críticos ou preconceituosos em relação a Portugal e a Lisboa em particular..."
Ainda por cima, estrangeiros, Miss Pearls - a ser e a ser, que fossem portugueses para os podermos "combater"... cá dentro.
Não deixo de estranhar tamanha bondade, para quem diz mal, a nós, de nós, e da terra que nos pariu.
Há dias, vi um documentário da TVE sobre Portugal e os portugueses. De 1995, creio eu. Poesia, Miss Pearls, poesia. As imagens e, sobretudo, as palavras (pois, as malditas palavras!), emocionaram-me de tal modo que, por leves momentos, pensei estar num país que desconhecia. No Paraíso. Por causa das palavras. Do narrador, do autor, ou seja lá quem for que viu Portugal de forma tão bela.
No fim do documentário - passados 12 anos - o que me veio à cabeça foi: deviam cá vir outra vez: Portugal, cortou o bigode, subiu a saia e, pasme-se, deu-lhe para abusar... nas transparências.
Há "mensagens entendíveis", Miss Pearls, que em nada beliscam a minha admiração por si.
Ora essa...e eu a pensar que aqui só se lia a Máxima e livros de culinária!
J� agora tamb�m poderia sugerir 5 livros estrangeiros que falassem bem de Portugal
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