O Santo da minha casa

Li com curiosidade as memórias do S. João do Porto no Abrupto. Desconfio que não conhecem o "meu" S. João. Não admira. Festeja-se lá para os lados onde o diabo perdeu a capa, mas é o único que conheço. Dos santos populares, o São João, criatura bondosa com o cordeiro aos ombros, é o único da minha devoação. O Santo António deve ter por vezes ataques de dispepsia (a avaliar pelo lindos serviços que já fez) e sobre as chaves do São Pedro, que lhes faça bom uso quando chegar a minha vez. Lembro com imensa saudade os festejos do São João, memórias da minha juventude. Eram as festas numa aldeia ainda habitada, onde se juntavam amigos, em que se dançava com desconhecidos nos arraiais, com rédea solta para andar na rua noite dentro e em que o profano e o religioso se confundiam numa ingénua familiaridade. Gostava de escrever umas linhas sobre o São João de uma aldeia que é quase minha, a quem recorríamos com promessas em fitas de seda de diversas cores pregadas na bandeira, mas as saudades e a lembrança quebram-me a vontade. Onze anos não é tempo ainda. Desconfio que nunca voltará a ser. Está lá a varanda, mas sem gente dentro. Para se cantar ao som de pandeiros e adufes: Hei-de ir ao S.João Ai hei-de ir se lá for Ai a pé ou a cavalo Ou nos braços dos meu amor S. João à minha porta Não tenho nada para le dar Darei-lhe uma cadeirinha para nela se sentar.

Donde vindes S. João Pela calma sem chapéu -Venho de ver as fogueiras Que se fizeram no céu. Viva o S. João Baptista! Viva o alferes! Vivam os padrinhos.