"Ó freguesa, deite-se bonita!!!"

Grita o feirante amigo e conselheiro da clientela que abocanhava furiosamente camisas de dormir e pijamas a dois euros. "Ó senhora, é a linda peça que o marido gosta" e abria sacos e sacos de plásticos com uns trapinhos de alcinhas que ia atirando para uma banca de roupa amontoada. As mais lestas nestas andanças, sem qualquer hesitação (não há que hesitar) arrebatam, com um único lance, o modelo que cobiçamos. Demasiado tarde. Quando damos por isso, já a senhora do lado segura com vigor dois ou três modelos, enquanto a cliente mais desprevenida desastradamente prova o trapinho por cima de qualquer roupa que tenha vestida. Veêm-se mulheres, muitas mulheres agarradas a muitos trapos, a maior parte deles completamente inúteis, mas irremediavelmente indispensáveis no momento da pechincha. As vendedoras gritam "ó freguesa é comprar que quero ir outra vez ao Brasil", "ó dona não tenha vergonha de comprar barato", e a gente compra, esquece o IVA que não é cobrado, leva a blusa que "é só dares um pontinho na manga", provam-se soutiens por cima de tshirts transpiradas que "aqui ninguém nos conhece", partilham-se opiniões com especialistas, "vá lá mais para o fundo que é mais barato".

Entretanto, não há que descontrolar. Orçamento limitado e boa avaliação do mercado, nem que para isso seja necessário subir e descer, esquerda, direita, ouvido atento e olho alerta.

Claro está que todos os anos surgem inovações . Desta vez é a saia da Floribela, a crítica despudorada aos chineses ("ó freguesa vê estes preços nos chineses?" ) e as comparações do costume com os centros comerciais "vá lá ver ó menina! olha o saco de marca".

Fazem-se as contas aos trocos que sobram. O dinheiro certinho para as sandálias lá ao fundo. Nem que sejam três números acima, mas com a promessa de que os pés incham no Verão.