Fim de tarde (10)
Ao fim de tantos anos, ainda tinham sempre tanto que falar. Agora já não conversavam sobre aquela vadia que tinha roubado o namoradinho à amiga do liceu, nem sobre o rapaz interessante que tinham conhecido numa festa ou sobre o vestidos dos casamentos. Tantos anos de cumplicidade tinham gerado uma intimidade que o tempo se encarregava de manter. Talvez por isso, precisavam daqueles momentos, em que fugiam da usura da liberdade que pouco a pouco pareciam ir perdendo.
Entre uma lágrima, um suspiro ou uma gargalhada, lá iam desfiando as mágoas, as contrariedades ou as alegrias.
- Cada vez acredito mais no acaso, exclamou V., no final de uma história feliz.
- Ah, sim? Então quando foi a última vez que estavas em casa quando o carteiro chegou com uma carta com aviso de recepção?
2 Comments:
se se morar num 5º sem elevador, o carteiro não se dá ao trabalho de subir para entregar. deixa o aviso para ir buscar à estação de correios. essa é que é essa...
A questão é que nunca se está em casa para receber uma carta com aviso de recepção. Só mesmo por um acaso ou doença.
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