Fim de tarde (VIII)
Quando desligou o telefone, tapou a cara com as mãos. Apesar de se encontrar sózinha, quase que sentiu vergonha da felicidade, como se tivesse perdido o hábito de sentir a emoção dessa grandeza. Queria aproveitar cada um dos momentos dessa intimidade única e estranha, que se vê no olhar e que se sente no coração.
Deu um jeito nas flores da jarra, endireitou as velas, arrumou a mesa. "Tudo movimentos inúteis, pensou a Sara, mas dos quais me quero lembrar quando tornar a repetir estes gestos."
Entrou no quarto e procurou dentro de uma gaveta ao lado da cama uma caixa fechada, embrulhada com papel prateado, já amarrotado. Lentamente retirou a fita e olhou para aquela moldura de que já não se lembrava e não pôde deixar de sorrir. "Pelo menos ainda a acho bonita depois de todo este tempo", pensou.
Olhou para a fotografia que vinha na moldura, o retrato de um homem certamente saído de uma revista e exclamou em voz alta: "O que tens estado a fazer estes anos todos no meu quarto, se eu não te conheço de lado nenhum? "
Nesse fim de tarde, foi uma mulher feliz que vestiu o casaco, pegou na carteira e foi ter com a felicidade que haveria de colocar ao seu lado. Finalmente.
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