Fim de tarde (VII)
Por acaso, o fim de tarde estava bastante animado. Talvez pelo facto de o cocktail de champagne estar perfeito ou o gin ser de boa qualidade, o ambiente estava descontraído e as pessoas riam à vontade, sem sufocar o riso com a mão.
Nestas festas fala-se de tudo, mas principalmente dos outros. Dos ausentes, claro.
As conversas têm uma ligeireza humorada e irónica, que serve para falar do último filme ou de alguma curiosidade nacional. Mas estão ali exactamente por isso, para coisas complicadas já basta a vida.
“Depois da meia-noite desfaz-se o feitiço e tornam-se abóboras novamente”, pensou a Sara, ao mesmo tempo que observava a chegada ao grupo de um novo conviva.
Mais apresentações e mais um nome que iria esquecer. Era escusado. Quando não havia nada de particular ou especial, haveria de perguntar sempre “como se chamava aquela criatura que estava naquele sítio, tal e tal”.
O recém chegado, coitado, estava decididamente fora de casting. Desatou a falar e aquilo era tudo boring,boring.
A Sara preparava-se para se afastar quando a criatura a interpelou:
- Não há coisa melhor do que ter todo o dia livre para ler, não achas?
- Não. Por acaso eu não acho nada disso e o meu marido também não.
2 Comments:
Loira, claro.
Esperta e gira, claro.
:)
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