Fim de tarde (III)
Toda a gente dizia como era parecida com a mãe. Ela própria, ao passar de relance numa montra ou num espelho a reconhecia naqueles traços. De início assustava-se, depois passou a conviver com esse reflexo e quem a visse sorrir nunca poderia adivinhar porque encostava a mão esquerda à cara. Quando sentia um perfume que lhe era comum tentava ficar ali, quietinha, com a lembrança do carinho de um beijo. Curiosamente, o cheiro de algumas cozinhas fazia-a recordar ruídos, movimentos, palavras : "Quem é que põe a mesa? ". Às vezes, quando se sente sózinha, lhe chega o desalento ou a saudade, como neste fim de tarde, olha secretamente para as mãos.
1 Comments:
tão lindo ... tão verdadeiro
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