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Não somos muitos os que nos rendemos, assim com um desvelo olhado como infame, ao som da primeira tempestade. Os que achamos suave o frio do Outono e, com deleite, reforçamos os cobertores. Os que vivemos com um entusiasmo ingénuo o recomeço: como se a exaltação do primeiro dia de aulas da infância fosse um mecanismo psicológico ao estilo de um relógio de repetição que retoma anualmente, com intensidade idêntica, o mesmo prazer para a vida toda.(...)
Somos esquisitos - pelo menos à luz da cultura dominante, que não cobre as suas satisfações com menos de 30 graus à sombra (que, para nós, genericamente, equivale à antecâmara do horror). É muito estranho estar divertido no meio dos deprimidos.
Há, depois, os perfumes da época: o cheiro da chuva, onde quer que seja - na terra, nas árvores, nas folhas, nas ervas, ou na pedra das cidades. E a misturar-se com o rio - ou com a areia da praia.
No tempo das férias grandes, percebíamos que a coisa mudava com as primeiras chuvadas na praia e não havia transição mais apaziguadora.
O fascínio do Outono é também o do recolhimento, vá lá, consentido. Podemos ficar em casa aos fins-de-semana e não sair à noite nunca, sem que ninguém ache isso excessivamente estranho. É provável que não se tenha ainda inventado cama mais confortável para adormecer que a habitual numa noite de trovoada. O Outono é tempo de mantas e felicidades domésticas. Nós, os esquisitos, estamos encantados. É desta que vou aprender a fazer compotas.
O fascínio do Outono - Ana Sá Lopes (Também aqui)
Fotografias-Outsider
2 Comments:
Como eu a entendo!
E tão bem que ficaram aqui as fotos!.Já comecou com as compotas?:)
Um destes dias mando-lhe uma de abobora com nozes que vou começar agora.....
Fique bem , gostei muito do texto que escolheu.
annie hall do outsider
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