segunda-feira, maio 15

Escavações arqueológicas (Idade do Saco)

Contava-me há dias um amigo que tendo a mãe decidido oferecer alguns sacos antigos, descobriu nas profundezas desses artefactos, moedas, pastilhas elásticas fossilizadas e até bilhetes de transportes de Moçambique com mais de trinta anos. Autênticos vestígios de interesse museológico encontrados in situ, bem conservados e que poderão vir a dar o seu contributo a estudos antropológicos e sociológicos. Isto fez-me lembrar de uma história verídica passada com uma tia avó que, aflita com uns brincos durante uma festa, resolveu tirá-los e guardá-los na carteira. Como certamente saberão, carteira de casamentos só é usada em casamentos e após o evento volta de novo para o armário, bem acomodada. Acontece que nunca mais encontrou os brincos tendo-os procurado em tudo quanto era sítio e tendo incomodado tudo quanto era gente, em especial o suspeito do costume, mais conhecido como a empregada, coitada, que deve ter passado maus bocados com os mais que prováveis olhares suspeitos que a minha tia lhe terá deitado. O mistério dos brincos desaparecidos só foi solucionado, claro está, por alturas do casamento seguinte, quando foi detectado que a carteira tinha um peso invulgar. Desconfio que nunca mais ninguém a viu com esses brincos. Isto a propósito da minha campanha arqueológica de Inverno: ruínas de uma escova numa bolsa lateral, um batôn em adiantado estado de decomposição, vestígios de resíduos urbanos, indícios de lixo doméstico, mas nem rasto de notas nem pistas de artefactos em ouro. Como diria a Miss Marple Pearls: “A dona destes sacos lembra-me uma bibliotecária que vivia na casa junto ao mercado e que passava a vida a tentar deixar de fumar e a rezingar contra os carros nos passeios.”
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