quinta-feira, dezembro 15

Verdadeiras pérolas

[D. Carlota Joaquina] Quando era retratada – muitas vezes o foi, a pesar da sua fealdade – vestia-se mais ostentosa do que nunca: coroava-se com altas plumas bizarras, engastadas em fieiras de pedras preciosas; apertava os cabelos negros com um diadema monumental de brilhantes, repartido por fios de pérolas e relâmpagos de jóias que em festões lhe subiam pelos lados e pela frente da cabeça, até se perderem na sumidade imperial daquela plumagem de rematado coroamento. No pescoço usava um pesado colar de diamantes e pérolas; das suas grossas orelhas pendiam brincos candentes e tão longos que lhe tocavam os ombros; no vestido de musselina da Índia e nos pulso tinha ainda mais prisões e remates de ouro e de fulgente e preciosa pedraria. (1) [D. João VI] Raramente envergava a sua farda vermelha doirada, condecorada, asfixiante. A sua roupa habitual foi uma vasta casaca sebosa de galões velhos, poída nos cotovelos, cujas largas algibeiras, como alforges milagrosos, guardavam a sua merenda, os seus bilhetes, o seu rapé – e depois, no Rio de Janeiro, uns frangos assados em manteiga, sem ossos, que devorava, vários ao dia, no intervalo das refeições. Quando se despojava da boa rabona em fio, não havia moço da ucharia que quizesse usa-la. (2) (1) A côrte de Portugal no Brasil / Luiz Norton. - Ed. ilust. - Säo Paulo : Comp. Editora Nacional, 1938.; pag. 70 (2) O rei do Brasil: vida de D. Joäo VI / Pedro Calmon. - Rio de Janeiro : Livr. José Olympio, 1935; pag. 76-77 Porque nem só de revistas de bombas de gasolina vive uma mulher. E estas descrições dos antepassados da nossa História são absolutamente divinas...capazes de fazer inveja ao melhor cronista social do nosso tempo.
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