O mistério do pudim desaparecido
Há dias fui a um jantar onde estava a Sónia (nome fictício). Não somos propriamente amigas, mas costumamos encontrar-nos em ocasiões sociais onde trocamos sempre algumas palavras. A Sónia é um bocadinho anafada, vestia-se com roupa indizível e usava uns sapatos tipo ortopédicos que não a favoreciam nada.
Nesse tal jantar reparei que pela primeira vez desde que a conhecia, a Sónia não comia o habitual pudim, mousse de chocolate ou fatia de tarte. Reparei nisso porque muitas vezes lhe cobicei o pratinho que ela comia com ar tão feliz, imune aos quilitos que se amontoavam nas laterais e no traseiro. De repente vi que a Sónia até tinha uns tracinhos fashion e que o cabelo já não tinha aquele aspecto meio freirático que costumava ter. Não, ali havia qualquer coisa. Até me parecia que havia um botão desapertado na casa mais abaixo. E depois havia o olhar. A rapariga tinha um brilhinho que eu lhe desconhecia.
Habituada a não fazer perguntas não fiz nenhuma observação, mas estava mortinha por saber o que tinha tornado a Sónia tão diferente. Claro que desconfiava. Só há mesmo um motivo para uma mulher anafadinha dispensar o pudim flan, mudar de saltos ou começar a usar adereços fashion. Estava-se mesmo a ver que tinha que usar o plano b: esperar que o jantar terminasse e perguntar a alguém presente se a Sónia tinha A Novidade que a deixava tão feliz. Felizmente não foi preciso recorrer a planos tão rasteiros. Tocou o telemóvel da Sónia e não era a empregada, a mãe ou a tia: Olá Franscisco, estou quase a terminar... sim... vou ter a tua casa. Até já.
Este post até pode parecer tolinho, mas não é. É sobre uma mulher feliz.
Agora ando mortinha por encontrar de novo a Sónia para saber quantos quilos perdeu, o ginásio em que se inscreveu e se já usa calças metidas para dentro das botas até ao joelho.
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