quinta-feira, outubro 13

Foto Neon signs E lá chegou o dia de dar o blog ao manifesto (com boa cara) no Encontro «Falar de blogues no feminino» . Deixo aqui umas pequenas notas sobre o que se pode chamar "a escrita feminina". Se concordarem, óptimo, se não concordarem, tanto melhor: assim sempre temos assunto de conversa. Mas certamente que havemos de ter muita coisa de que falar. E muitos olhares esbugalhados das nossas surpresas ( fantásticas, claro). Espero que gostem e que passem um bom bocado. Eu tenho a certeza de que gostarei de ouvir a voz dos vossos blogs.
Creio que a dicotomia masculino/feminino não se apresenta como evidência no acto da escrita, tal como julgava uma certa franja contestatária e algo extremista nas décadas de 60 e 70. Havia então um motivo para tal reivindicação de liberdade e reconhecimento do papel da mulher escritora. A mulher era justamente considerada um actor mudo no mundo da cultura, do jornalismo, da política e das belas artes. Com excepção de uma Georges Sand, das Irmãs Bronté, de Gertrud Stein, de Hannah Arendt, de Simone de Beauvoir e de Yourcenar, o mundo das letras - em todos os seus graus - fora pertença dos homens desde a Antiguidade. Acho que a questão deveria ser colocada de outra forma: haverá um timbre feminino que se apresente como definidor de uma forma de escrever, pensar os problemas e conhecer o real ? Julgo que não, pois assim seríamos obrigados a aceitar uma filosofia feminina, uma música feminina, uma pintura feminina. É demasiado, pois é uma forma de auto-exclusão ou uma certa forma de requerer autorização aos homens. Nenhuma Teoria da Literatura aceita este tipo de especificidade. O que há, sim, é um um conjunto preciso de formas de expressão da sensibilidade, de papéis, mitos e tipos ideais que se convencionou chamar de femininos. Cultura, história e instituições moldam esta especificidade feminina, que por certo cairia por terra se nos deparássemos com as Amazonas ou com as Valquírias de Wagner. Há homens que escrevem como senhoras, como há mulheres que escrevem como homens.
O que o mundo da blogosfera proporciona é uma forma de literatura de momento - um misto de diário, em que a ficção se entrelaça com a memória pessoal e a história que vai acontecendo no dia-a-dia. Nem tudo o que ali existe é "realidade" nem tudo é ficção.
Eu escolhi um estilo, mas no meio dos perfumes e das pérolas, vou fazendo as escolhas do dia-a-dia.
A todos os que comentaram o post abaixo, obrigada por fazerem deste blog um local bem frequentado.
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