sexta-feira, setembro 30

Mimo

Mimo "Metade dos problemas nacionais deve-se não à falta de meios, não à falta de talentos, não à falta de vontades, mas a uma outra falta mais grave: à falta de Mimo. O Mimo é aquela coisa pequenina - ou não se diz que "miminho" vem de "minimu"?- que nos faz sentir suficientemente grandes para enfrentar as mesquinhas mediocridades do dia-a-dia. O Mimo é o Carinho inocente, destituído de conotações sexuais, livre de complicações e pronto a servir a quem precisa.(...) O Mimo, ao contrário do Carinho ou da Ternura, nada resolve. Mas relativiza todos os problemas que precisam - ou deixam de precisar - de uma solução. É a doçura fingida com que se finge e e consegue consolar as agruras mais agrestes deste mundo.(...) Só uma pessoa feliz é capaz de dar e receber Mimo em grandes quantidades.(...) As pessoas desiludidas não querem o Mimo para nada - querem é melhorias, precisam de obras e aguardam ansiosamente uma milagrosa ressuscitação.(...) O Mimo é o repouso da guerreira ou o do guerreiro, desfazendo-se em desvelos entre duas boas batalhas.(...) O Mimo é um câmbio de extremos e de branduras entre dois actores que se sentem tão seguros com os seus papéis que os podem trocar sem fazer confusões. A teatralidade do Mimo é uma consciência deliciosa. (...)" Miguel Esteves Cardoso - A causa das coisas. 1986 (pag. 181-83)
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